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Sustentabilidade nos hospitais: como essas instituições podem ser mais um agente de prevenção?

Além de representar uma característica de empresas sérias e responsáveis, a melhor gestão de resíduos e emissões de gases estufa se tornou necessidade urgente para salvar vidas

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A pauta ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa, em português) está em todos os setores. Desde sua entrada no mercado, em 2000, ela se tornou fundamental para competitividade e qualidade, sendo, inclusive, demandada em bolsa de valores. O objetivo é seguir as recomendações globais quanto à prevenção de danos irreversíveis ao planeta. Na Saúde não seria possível deixar de seguir esse caminho, uma vez que a poluição, por exemplo, gera danos à vida. Segundo o Healthcare Without Harm (HCWH), 70 milhões de pessoas vão morrer por causa do estresse climático até o final do século. Hospitais responsáveis podem salvar metade dessas vidas e ainda gerir melhor seus recursos.

O setor contribui com 5% de emissões de gases carbônicos, diz a HCWH. Pensar na utilização de energias renováveis, otimizar a utilização de insumos não renováveis, como água – 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável, é urgente. A produção do chamado lixo hospitalar chega a 480 mil toneladas por ano, e teve um acréscimo de 20% somente na pandemia, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Unidades de saúde de média e alta complexidade geram diferentes tipos de resíduos, como radioativos, com potenciais riscos à natureza e, consequentemente, à saúde. 

Segundo dados do governo federal, por exemplo, diariamente são produzidas mais de 9 mil toneladas de carga orgânica no país, e em torno de 5 mil toneladas chegam aos rios e reservatórios mesmo após o tratamento dos esgotos. Enquanto 100 milhões de pessoas não possuem acesso a saneamento básico. Daí a importância da gestão dos resíduos. O descarte correto evita contaminação como por metais pesados, que causam cânceres. Além de enchentes e acumulação de lixo que atraem vetores de doenças, como dengue, e animais peçonhentos.

Enquanto isso, o CO² em grandes quantidades no ar aumenta as taxas de derrames, câncer de pulmão e outras doenças respiratórias. Eles são emitidos pelo simples funcionamento do hospital, por máquinas, ar-condicionado e geradores de energia. Algumas alternativas podem ser implementadas para mitigar a emissão sem atrapalhar o funcionamento de leitos e cirurgias, como o uso de energia solar. 

Segundo a OMS, 7 milhões de mortes prematuras são provocadas todos os anos por poluição, sobretudo nos países de baixo e médio rendimentos. Ações preventivas fazem parte das políticas e retórica de todos os profissionais do setor, portanto, é relevante que o ambiente onde estão inseridos não sejam promotores de más condições de saúde. Nem mesmo os hospitais que recebem pacientes. 

Vale ressaltar neste momento que, a não preocupação com a agenda ambiental, pode provocar uma maior oneração de hospitais por hospitalização e grandes contingentes de internados em tragédias climáticas. Em contrapartida, segundo o relatório ESG nos hospitais Anahp: resultados e boas práticas de 2022 da Agência Nacional de Hospitais Privados (Anahp), as ações de gestão ESG geraram economia de 486 milhões de litros de água por mês, o equivalente a aproximadamente 194 piscinas olímpicas e ao consumo médio de mais de 162 mil pessoas mensalmente. Tecnologias de produção mais limpa, métodos de economia circular, por exemplo, contribuem para a redução da pegada ecológica de produtos e serviços.

As legislações locais tentam mitigar a ação irresponsável de indústrias e serviços, juntamente com ações globais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), fixados pela ONU como meta até 2030, que incluem reduzir o impacto negativo per capita das cidades. Os esforços de regulação em relação às emissões são resultado da observação de que metade da população urbana está exposta a níveis de poluição do ar exterior pelo menos 2,5 vezes acima do padrão de segurança estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).  As medidas contribuem, inclusive, para a melhoria dos indicadores financeiros dos estabelecimentos, como o EBITDA (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização, em português).

Os princípios ESG demandam uma mudança cultural entre todo o ecossistema, incluindo profissionais. A construção da política tem se mostrado mais sólida no setor suplementar pelo orçamento mais robusto, sendo possível contratações e mudanças estruturais. No Sistema Único de Saúde (SUS), o orçamento restrito e poucas políticas públicas sobre o assunto tornam mudanças mais lentas. Nos dois casos, o conhecimento sobre a agenda ainda é deficitário. 

Para consolidar a pauta, especialistas entendem ser necessário que as faculdades de medicina elaborem conteúdos com a pauta para os novos profissionais ajam como multiplicadores da boa gestão. Isso inclui conhecimento e vivência sobre medicina preventiva e fatores ambientais, além de gestão de negócios.