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Falta de sono afeta o sistema imune e aumenta risco de distúrbios inflamatórios e doenças cardíacas

Pesquisa é a primeira a mostrar que o sono altera a estrutura do DNA de células-tronco imunes que originam leucócitos e isso pode ter um efeito duradouro, ao aumentar parâmetros inflamatórios e contribuir para alguns tipos de doenças

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A insuficiência crônica de sono pode afetar negativamente as células do sistema imunológico, o que pode levar a distúrbios inflamatórios e doenças cardiovasculares, de acordo com um novo estudo da Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai.

A pesquisa, publicada em 21 de setembro no Journal of Experimental Medicine, é a primeira a mostrar que o sono altera a estrutura do DNA de células-tronco imunes que originam leucócitos e isso pode ter um efeito duradouro, ao aumentar parâmetros inflamatórios e contribuir para alguns tipos de doenças. O estudo também é o primeiro a sugerir que tentar compensar ou recuperar o sono não reverte os efeitos da interrupção do sono.

A equipe de pesquisadores analisou quatorze adultos saudáveis ​​que apresentavam regularmente oito horas de sono por noite. Primeiramente, os pesquisadores os monitoraram dormindo pelo menos oito horas por noite durante seis semanas. Eles então analisaram suas células imunes em amostras de sangue. Após este período, o mesmo grupo de adultos reduziu o tempo de sono em noventa minutos todas as noites durante outras seis semanas e teve seu sangue e células imunológicas reanalisadas.

Ao final do estudo, os cientistas compararam as amostras de sangue do período com uma noite inteira de sono e dos períodos de sono restrito. Todos os participantes tiveram mudanças significativas em suas células imunológicas: o número de leucócitos aumentou e a sua estrutura genética havia sido alterada.

Os pesquisadores também analisaram o sono em modelos animais. Camundongos foram divididos entre grupos que possuíam períodos ininterruptos de sono e grupos que tiveram fragmentação do sono, ao longo de dezesseis semanas. Em seguida, os camundongos do grupo com fragmentação do sono passaram por uma recuperação que consistiu em um período ininterrupto de sono por outras dez semanas.

Foi observado que todos os camundongos com sono fragmentado tiveram mudanças significativas em suas células-tronco imunes, produzindo um número maior de células imunes, e também mostraram evidências de reprogramação genética. Uma descoberta notável foi que, mesmo após o período de recuperação do sono, o DNA destes animais continuou danificado e eles permaneceram com maior contagem de glóbulos brancos, fato que pode favorecer o surgimento de doenças inflamatórias.

Segundo os autores do estudo, as descobertas sugerem que a recuperação do sono não é capaz de reverter totalmente os efeitos do sono de má qualidade. É possível detectar uma impressão molecular de sono insuficiente em células-tronco imunes, mesmo após semanas de sono de recuperação. Essa impressão molecular pode fazer com que as células respondam de maneiras inadequadas, levando à inflamação e à doença.

Ainda de acordo com os cientistas, “foi surpreendente descobrir que nem todos os aglomerados de células-tronco responderam ao sono insuficiente da mesma maneira. Houve alguns aglomerados de células-tronco que proliferaram e cresceram em número, enquanto outros aglomerados se tornaram menores. Essa redução na diversidade geral e no envelhecimento da população de células-tronco imunes é um importante contribuinte para doenças inflamatórias e doenças cardiovasculares”.

Os autores concluem que o trabalho enfatiza a importância de os adultos dormirem consistentemente de sete a oito horas por dia para ajudar a prevenir inflamações e doenças, especialmente para aqueles com condições médicas subjacentes.

Referência:

Cameron S. McAlpine, Máté G. Kiss, Faris M. Zuraikat, David Cheek, Giulia Schiroli, Hajera Amatullah, Pacific Huynh, Mehreen Z. Bhatti, Lai-Ping Wong, Abi G. Yates, Wolfram C. Poller, John E. Mindur, Christopher T. Chan, Henrike Janssen, Jeffrey Downey, Sumnima Singh, Ruslan I. Sadreyev, Matthias Nahrendorf, Kate L. Jeffrey, David T. Scadden, Kamila Naxerova, Marie-Pierre St-Onge, Filip K. Swirski. Sleep exerts lasting effects on hematopoietic stem cell function and diversity. Journal of Experimental Medicine, 2022; 219 (11) DOI: 10.1084/jem.20220081

Fonte: Academia Médica