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Educação ética em faculdades de medicina no Brasil

Publicado no Journal of The Brazilian Medical Association, estudo revela percepções inquietantes de recém-formados em medicina sobre o ensino de ética e a prevalência de situações antiéticas durante sua formação

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Um estudo realizado no Brasil traz reflexões cruciais sobre a educação ética nas faculdades de medicina.  Publicado no Journal of The Brazilian Medical Association, ele revela percepções inquietantes de recém-formados em medicina sobre o ensino de ética e a prevalência de situações antiéticas durante sua formação.

Em sua essência, o ensino de medicina busca formar profissionais competentes tecnicamente, mas também preocupados com as dimensões biopsicossociais e humanísticas de seus pacientes. A incorporação de ética e direitos humanos ao currículo médico é, portanto, imperativa. No entanto, o estudo revela lacunas consideráveis nesse aspecto vital na formação médica no Brasil.

O estudo, que se baseou em uma pesquisa com 4.601 participantes, revelou que uma alta porcentagem de recém-formados testemunhou comportamentos antiéticos durante seu treinamento. Mais especificamente, 62,0% observaram atitudes antiéticas durante o contato com pacientes, 51,5% presenciaram atitudes inadequadas em relação à colegas de trabalho, equipes multidisciplinares e pessoal administrativo, e 34,4% em relações com as famílias dos pacientes. Esses resultados são profundamente preocupantes, pois sugerem que o fenômeno do “erosão ética”, onde os valores dos alunos são negativamente influenciados pela observação de comportamentos antiéticos, pode ser mais comum do que gostaríamos.

No lado positivo, a maioria dos entrevistados (72,0%) concordou plenamente que o ensino de humanidades e a relação médico-paciente fizeram parte do currículo de sua faculdade de medicina. No entanto, apenas 24,0% concordaram totalmente que foram adequadamente ensinados na faculdade de medicina sobre “como lidar com a morte“. Esta é uma área crucial que parece necessitar de maior ênfase e melhoria na educação médica.

Uma análise mais detalhada das respostas revelou diferenças interessantes entre os formados em escolas médicas privadas e públicas. Os formados em escolas médicas privadas concordaram mais com as afirmações sobre a presença de treinamento em humanidades e relações médico-paciente em seu currículo escolar e sobre o tópico de conflitos de interesse abordados em seu treinamento. No entanto, houve uma menor taxa de discordância com a afirmação “o treinamento médico me ensinou adequadamente como lidar com a morte” entre os formados em escolas públicas, em comparação com os formados em escolas privadas.

Esses resultados sinalizam que há muito trabalho a ser feito na melhoria da educação ética nas faculdades de medicina do Brasil. A reformulação do currículo de ética, a promoção da educação em bioética durante todo o período da faculdade de medicina, a integração da teoria com a prática clínica e a mudança da cultura médica por meio de modelos de comportamento positivos e valores institucionais são etapas importantes que podem ajudar a aprimorar a educação médica e os sistemas de saúde.

Fonte: Academia Médica