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Parceria vai destinar R$ 20 milhões para desenvolvimento de dispositivos médicos

ABIMO, EMBRAPII e BNDES reuniram o setor para contar detalhes da iniciativa, que representa um marco no apoio à inovação em saúde no país

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Uma excelente oportunidade para viabilizar inovações no setor de dispositivos médicos foi apresentada na manhã do dia 27 de outubro, na FIESP. A Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se reuniram com o setor para revelar os detalhes da parceria que vai destinar R$ 20 milhões para o desenvolvimento de tecnologias estratégicas e processos ligados à saúde.

Na abertura do evento, Paulo Fraccaro, superintendente da ABIMO, disse que a inovação dá trabalho, mas é ela que mantém a empresa viva. “A inovação tem de estar na mente, na boa vontade, no esforço, não só da equipe que está embaixo, mas também do dono, do coordenador, senão a organização não vai para a frente.”

Entre os convidados esteve Paulo Alvim, ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações, que lembrou da falta de dispositivos médicos durante a pandemia. “Foi então que nos defrontamos com a boa vontade do setor empresarial brasileiro, que demonstrou muita responsabilidade em vidas salvas, não só com desenvolvimento industrial, mas também com ações de cidadania. A união que alcançamos a partir de março de 2020, e que perdura até hoje, é fruto de uma postura cidadã do setor empresarial brasileiro. E a partir daí, não deixamos de trabalhar juntos”, ressaltou.

Alvim recordou com orgulho da primeira missão humanitária do Brasil no Líbano, que recebeu ventiladores pulmonares totalmente feitos por empresas brasileiras. “Isso mostrou a força e a capacidade técnica, empresarial e tecnológica de um segmento que ficou adormecido por muito tempo e que vi crescer. A covid-19 aproximou o governo e o setor de dispositivos médicos”, reforçou.

O ministro salientou, ainda, que o governo federal trata o Complexo Saúde como estratégico, como setor fundamental do ponto de vista de soberania tecnológica. “Não podemos mais passar pelo que passamos na pandemia. Precisamos ter estratégias de longo prazo e estratégias de estado para não termos de viver por soluços.”

Ele também disse ser necessário construir políticas de convergências entre diversas instituições públicas, inclusive parcerias público-privadas, para apoiar o setor, e agradeceu o apoio do BNDES na iniciativa apresentada. “Quando nós, que já vínhamos apoiando o Complexo da Saúde, decidimos dar prioridade aos dispositivos médicos na parceria com o BNDES, mostramos que essa estratégia continua. Se houver bons projetos, interesse do setor empresarial e interesse da sociedade brasileira, o compromisso será cumprido. O papel da EMBRAPII, como aceleradora da inovação, é estratégico nesse novo posicionamento”, expôs.

De acordo com Alvim, o Brasil precisa ser o hub do Complexo de Saúde para o Hemisfério Sul, dessa forma, as janelas de oportunidade se efetivarão. “A ciência foi percebida pela sociedade graças à pandemia, mas, mais do que isso, a ciência faz parte da construção de um desenvolvimento inclusivo e sustentável”, concluiu.

Para Franco Pallamolla, presidente da ABIMO, o convênio celebrado mostra que o setor de dispositivos médicos começou a ser visto, de fato, como estratégico. “Não faz sentido termos o maior sistema de saúde público do mundo e depender de tecnologia desenvolvida em outros países. Na época da pandemia, não tínhamos máscaras, pois nossa opção como país foi ser importador. Já tivemos fabricantes brasileiros, mas como todas as políticas fiscais e os estímulos induzem à importação, perdemos esses produtores. Na questão dos ventiladores, tínhamos quatro empresas apenas”, lembrou.

Em sua participação, João Pieroni, head do departamento de saúde do BNDES, destacou que reindustrialização sem inovação não leva a um caminho sustentável. “O que buscamos nessa parceria do BNDES com a EMBRAPII é justamente alavancar os investimentos em inovação. O BNDES está aportando recursos não reembolsáveis do próprio banco. Um contrato de R$ 170 milhões em diferentes áreas, sendo R$ 20 milhões iniciais para o setor de dispositivos médicos”, expôs.

Pieroni salientou com o BNDES está sempre disponível, independentemente da gestão, para que esse apoio seja perene e complementar. “Com sua estrutura atual, o banco tem dificuldades para chegar a projetos menores e mais pulverizados, por isso a parceria com a EMBRAPII está sendo fundamental para dar vazão aos recursos”, acrescentou.

Por sua vez, José Luis Gordon, presidente da EMBRAPII, disse que a parceria já vem colhendo muitos frutos e que a instituição está em busca de bons projetos. “Este é um marco de apoio ao setor de dispositivos médicos, que é muito importante para o país.”

Sobre atender as demandas da saúde pública, Gordon revelou que a intenção é desenhar um projeto que conecte a EMBRAPII com as encomendas do Ministério da Saúde e, obviamente, com o BNDES. “Enxergo total sinergia nessa parceria. Obviamente não vamos fazer a compra, mas desenvolver os projetos. Essa talvez seja uma grande ambição, mas olhamos para a questão da demanda pública também, além da privada”, expôs.

Como funciona

A EMBRAPII oferece a empresas nacionais que desejam inovar recursos não reembolsáveis e um ecossistema de 85 unidades, que são centros de pesquisas localizados em todo o país. Mais de 210 projetos já receberam o apoio da entidade na área de saúde, setor mais apoiado, totalizando cerca de R$ 200 milhões em investimentos. Trata-se de uma Organização Social com Contrato de Gestão com os Ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Educação (MEC), Economia (ME) e Saúde (MS).

Igor Nazareth, diretor de Planejamento e Relações Institucionais da EMBRAPII, explicou que, na prática, funciona assim: a empresa tem um desafio tecnológico para colocar um produto no mercado. Em qualquer momento, ela pode procurar umas das unidades da EMBRAPII para negociar diretamente. Em um mês já é possível dar o start no desenvolvimento da tecnologia.

Das empresas parceiras, 39,5% são de grande porte, 5,4% são médias e 55,1% são micro e pequenas empresas e startups. As grandes e médias empresas, com ROB maior ou igual a R$ 90 milhões ao ano, recebem recursos com participação máxima de 1/3 do valor dos projetos. Microempresas, empresas de pequeno porte, startups e médias empresas com ROB inferior a R$ 90 milhões ao ano recebem recursos com participação de 50% do valor dos projetos. O valor máximo dos recursos da parceria a ser aportado em um projeto individual é de R$ 5 milhões.

Os focos dos projetos na área são 40% em Saúde 4.0; 29% em equipamentos; 15% em materiais; 8% em diagnóstico e 8% em medicamentos.

Exemplos

Alguns exemplos de projetos de sucesso foram destacados na reunião. Renata Gabaldi, coordenadora de desenvolvimento da Braile Biomédica, contou sobre a parceria com o Instituto de Pesquisas Eldorado, credenciado pela EMBRAPII. Juntos, desenvolveram o ECMO, um equipamento eletromédico para oxigenação extracorpórea do paciente a fim de possibilitar maior eficiência nos procedimentos, incrementando sua segurança e o tratamento pulmonar nos casos críticos de coronavírus.

“Foi uma parceria de grande sucesso. O projeto finalizou-se em seis meses com aprovação da Anvisa pelo registro emergencial, permitindo atender muitos pacientes. Já temos outros projetos em andamento com o Eldorado”, disse Renata.

Carlos Pitarello, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na HTM Indústria de Equipamentos Eletroeletrônicos, mostrou que a empresa tem quatro projetos com a EMBRAPII, utilizando Internet das Coisas, Blockchain, Inteligência Artificial entre outras tecnologias, para soluções que envolvem geolocalização, rastreamento e sensoriamento.

“Já tivemos projeto aprovado e iniciado em 11 dias, o que poderia ser um cenário inimaginável de apoio à nossa iniciativa”, disse Pitarello. Segundo ele, o modelo é claro, objetivo, nada burocrático, rápido, flexível e para todos os portes de empresas.

Juliano Alves Lindo, gerente executivo de Governança Corporativa da Ibramed, contou que a empresa desenvolve, desde 2019, produtos de alta tecnologia com o Instituto de Pesquisas Eldorado. “Essa parceria de sucesso vem rendendo ótimos frutos e o resultado disso são produtos inovadores, genuinamente brasileiros, com custos altamente competitivos nos mercados nacional e internacional”, destacou.

Ao final, Márcio Bósio, diretor institucional da ABIMO, coordenou a sessão de perguntas e respostas. O vídeo completo da reunião pode ser visto no canal do You Tube da ABIMO SINAEMO, no link: https://youtu.be/Ln-gQvMsE2Q.

Proposta

Durante o evento, Paulo Fraccaro entregou ao ministro Paulo Alvim uma proposta de política industrial para o setor de dispositivos médicos, a fim de que seja uma cartilha de orientações. Essas propostas foram elaboradas pela ABIMO, pela Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (ABIMED) e pela Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI).

Segundo Fraccaro, a pandemia de Covid-19 mostrou a grande importância de um sistema de produção local. “Lembramo-nos das lutas que enfrentamos na compra de determinados produtos, brigando em portos e aeroportos na China. Naquele momento, nós da indústria achamos que os problemas que estávamos enfrentando seriam a grande semente para o fortalecimento de uma indústria local que pudesse abastecer o Brasil não só naquela ocasião, mas também no futuro. Mas se a semente não for cuidada logo, ela é esquecida. E boa parte do governo parece-me que precisa se lembrar que essa semente necessita ser cultivada para que a empresa nacional, independentemente do capital, possa ser fortalecida”, salientou.